quinta-feira, março 12, 2009

Doar faz bem a saúde!







Doar faz bem à saúde
(Histórias de quem se dedica aos outros)


por Patrícia Machado

Às seis horas da manhã, o despertador toca na casa de Maria de Jesus Oliveira, 58 anos. Apesar do hábito de dormir tarde, a aposentada se esforça para sair da cama, pois tem um compromisso. Três vezes por semana, Maria vai bem cedo à casa da vizinha Andréa Neves, mãe das gêmeas Emily e Tainá, de 1 ano e meio. Nesse horário, o marido de Andréa sai para o trabalho e não há quem fique com as meninas para que a mãe possa buscar, a cerca de dez quarteirões, o leite fornecido de graça no Posto de Saúde. “É muito cedo e frio, fica difícil levar as duas”, explicou Andréa. “Eu nunca pedi para Dona Maria olhar as crianças, ela percebeu que eu precisava e se ofereceu. Ela é como um anjo para nós.” Ao ser questionada sobre por que decidiu prestar auxílio à vizinha, a resposta é simples: “Poder ajudar faz a gente se sentir bem.”
Talvez tenha sido esse mesmo sentimento de satisfação pessoal que tenha motivado um samaritano a ajudar um desconhecido, deixado à beira do caminho, quase morto, após ser roubado e espancado por salteadores. A parábola de Lucas 10:30-37 foi contada pelo próprio Cristo para ensinar sobre o amor ao próximo. Enquanto o homem estava à beira do caminho, passaram por ele um sacerdote e um levita, que deveriam viver de acordo com os mandamentos de Deus. Mas foi um samaritano, povo considerado impuro e desprezível pelos judeus, quem o acudiu e exerceu, para com ele, o amor fraterno ensinado por Jesus.
A história bíblica inspirou Maria Luísa Curti, 56 anos, a escolher o nome da instituição que mantém em um bairro rural de Araçatuba, interior de São Paulo. A Casa Bom Samaritano foi fundada há oito anos para recolher moradores de rua. Evangélica, ela acredita que o trabalho é resultado de um chamado de Deus e confessa que vê, na face de cada homem que recolhe, o rosto do primeiro marido, com quem viveu 17 anos, até que ele morreu vítima do abuso do álcool.
Desde então, Maria Luísa passou a realizar diversos trabalhos voltados aos dependentes de álcool e suas famílias, primeiro no AA (Alcoólicos Anônimos) e também na ARA (Associação de Recuperação de Alcoólatras), que fundou em 1984 e da qual é presidente de honra até hoje.
A idéia de criar um lar para moradores de rua surgiu quando começou a distribuir alimentos para andarilhos durante a noite. “Na Bíblia, o samaritano socorre o homem na estrada e leva para uma hospedaria. Foi então que eu entendi que tinha de montar uma hospedaria.” Atualmente, a Casa Bom Samaritano abriga 50 homens. Sobre si mesma, Maria Luísa disse apenas: “Vivo pelo que creio e não pelo que vejo.” E sobre os “filhos”, como chama os moradores da instituição, ela afirmou: “Só tento ensinar a eles sobre o amor de Deus e a importância de ter objetivos”.
Depois do que passou com a filha, o taxista Joel de Melo deixou de cobrar corridas aos hospitais e decidiu que teria uma ambulância para socorrer de graça qualquer um que precisasse
Fazer algo em benefício de alguém que não poderá oferecer nada em troca. Para Joel de Melo isso é muito natural. “Um dia vamos prestar contas a Deus, e disso ninguém vai poder fugir”, ressaltou o taxista de 50 anos, também morador de Araçatuba, que afirma crer na existência de Deus, mas não seguir nenhuma religião.
Ainda segundo ele, somente Deus poderia tornar realidade o sonho que teve há 20 anos, após uma noite de muita angústia ao lado da filha. “A Taísa tinha 1 ano, estava com febre e não conseguia respirar. Estava chovendo muito, e eu liguei várias vezes pedindo uma ambulância. Na época, eu já era taxista, mas faltava álcool e não tinha como abastecer. Passei a noite toda ligando, mas o dia amanheceu sem que uma ambulância chegasse. Assim que clareou, peguei um cobertor, enrolei a menina e fui para o hospital de moto, embaixo de chuva mesmo. Ela chegou com mais de 41 graus de febre e mal conseguia respirar, estava com pneumonia. Ainda deu tempo de salvá-la, mas eu jurei que, se pudesse, nunca mais deixaria ninguém passar pelo que eu passei.”
A partir desse dia, o taxista deixou de cobrar corridas aos hospitais e decidiu que teria uma ambulância para socorrer de graça qualquer um que precisasse. “Eu economizava tudo o que podia e até o que não podia para juntar dinheiro.”
O projeto se tornou realidade em 1999, quando Melo comprou uma perua Veraneio e a equipou com maca, imobilizadores e todo o material necessário para transportar pacientes. Para prestar um bom serviço, ele já fez três cursos de primeiros-socorros e atendimento a vítimas de acidentes.
No ano passado, sua história foi divulgada em todo o país, por meio de um programa de televisão, e ele ganhou uma segunda ambulância, além de um troféu como cidadão-modelo. Hoje, utiliza os dois veículos.
O Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, especialista no atendimento de traumatismos e problemas de coluna; o Hospital do Câncer de Barretos (SP), referência no tratamento de tumores e diversos hospitais da capital paulista são os destinos para onde Melo mais viaja levando e trazendo pacientes que fazem tratamentos de longo prazo. Ele não cobra pelo trabalho. “No caso de viagens longas, às vezes, a pessoa me ajuda a pagar o combustível”, disse. A ambulância também realiza o traslado de corpos, um serviço extremamente caro quando realizado por funerárias particulares. “Já trouxe muito filho para a mãe enterrar”, lamentou ele, surpreso com o número de jovens mortos por causa da violência.
Dedicando a maior parte do tempo ao trabalho voluntário, o taxista teve a renda reduzida, mas a esposa, que é enfermeira, e os filhos Taísa, 20 anos, e Júnior, 17 anos, não se importam com as pequenas dificuldades, sempre superadas com amor e paciência. “Minha filha vai fazer enfermagem e meu menino ajuda nos atendimentos. Creio que, quando eu morrer, esse trabalho vai continuar.”
Maria Luísa Curti, acredita que seu trabalho é resultado de um chamado de Deus e confessa que vê, na face de cada pessoa que recolhe, o rosto do primeiro marido que morreu vítima do abuso do álcool
Fazer o bem e ajudar o próximo pode trazer satisfação mesmo nos momentos mais difíceis. Foi por amor a pessoas que nunca conheceu que Edna Mattos decidiu doar os órgãos do marido, após ter sido diagnosticada a morte cerebral dele, causada por um aneurisma, em junho deste ano. José Machado Filho, 48 anos, morador de Santos (SP), tinha duas filhas adotivas, três enteados e era policial militar. “Ele viveu a vida toda fazendo o bem, ajudando a todos. Saber que ele está ajudando as pessoas, mesmo depois da morte, conforta nosso coração.”
A irmã do policial, Regina Célia Machado, que também assinou a autorização para a retirada dos órgãos, afirma que um detalhe em especial encheu seu coração de paz. “Parte da pele dele foi retirada e levada para um hospital de crianças queimadas, em São Paulo. Ele amava crianças e ficaria muito feliz com isso.”
A decisão de ser um doador foi tomada por Machado Filho ainda em vida. “Ele viveu se doando para os outros e deixou bem claro que, se fosse possível, gostaria que a família doasse seus órgãos. Na mesma noite em que estávamos chorando por termos perdido meu irmão, outras famílias também choravam, mas de felicidade, ao receber a ligação que havia um órgão compatível, que seu parente ia ter uma chance de sobreviver. Isso nos fez lembrar que a vida e a morte estão nas mãos de Deus e que Ele tem seus propósitos. Isso nos fez crer que nunca é tarde demais para fazer o bem e entender que, mesmo na hora mais triste, amor ao próximo traz conforto e paz.”


Via: EDIÇÃO 86 -Ano 2008- Revista Enfoque Gospel

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